sábado, 21 de agosto de 2010

Sobre conhecer os filhos e uma arma apontada para a cabeça do meu

 
São Paulo, 20 de agosto de 2010.

Hoje como faço de segunda a sexta, levei a Maria Luiza na escola, acompanhada do Samuel.
Ele adora o ambiente de escola, fica super empolgado vendo outras crianças correndo. E hoje fez sol depois de dias de frio aqui em São Paulo. Estava uma manhã linda.

E pela primeira vez brinquei com os dois em um parquinho, que fica dentro das dependências da escola. O Samuel tem apenas 1 ano 3 meses e como já contei aqui sou meio neurótica com bactérias, fungos e trocadores públicos, então foi a primeira vez que deixei ele brincar na terra.

Lógico, como mãe babona que sou, aproveitei para tirar varias fotos no meu celular.

Deu o horário de entrada da Malu na escolinha e depois de a entregá-la a sua professora, segui para encontrar o Marcelo, como faço todos os dias.
Passei no cliente onde ele estava e combinamos de nos encontrar para o almoço na casa da minha sogra, como fazemos todos os dias.
Fui na frente com o Samuel, enquanto ele dava uma carona para um colega de trabalho.

Era cerca de 12:30. Ruas cheias, muitas crianças. Troca de turma nas duas escolas próximas.
Passei em frente a uma delas e reparei num grupo de meninos de 12 ou 13 anos, bem vestidos. Me lembro de ter pensado: “Esses estão indo cabular aula para namorar.”

Parei o carro na frente da casa da avó das crianças tirei o Samuel do carro, estava apenas com meu celular e a chave do carro na mão.

Abri o portão, segurei na mão do Samuel para entramos na garagem e fui surpreendida por aquele mesmo grupo de meninos que pensei estar cabulando aula pra namorar. Um deles tinha um revolver calibre 38 cano curto, apontado para a cabeça do Samuel que estava ao meu lado e com o dedo no gatilho,  pediu a chave do carro. Falei “Pode levar” abri as minhas mãos e ele rapidamente pegou as chave e o celular que nela estavam.

No momento do ocorrido lembrei de uma frase dita por um cliente/amigo que já havia passado por situação semelhante: “ Se eles (ladrões) chegarem, você tem que estar pronto para entregar” E diga-se de passagem que “estar pronto para entregar” quer dizer: “Deixe essas pessoas de pouco valor levar tudo de valor financeiro que você conseguiu  ganhar com muito esforço, trabalho, noites mal dormidas e fins de semanas trabalhados, em prol da sua vida, porque para eles (ladõres) você, sua vida, seu filho, sua mãe, seu amigo ou seja lá quem você tenha de valor inestimável vale muito menos do que aquele, carro, bolsa, celular, carteira…” E essa frase foi o que guiou minha ação. Nada de reação.

Eram quatro ou cinco M-E-N-I-N-O-S de 12 ou 13 anos. Esses meninos devem ter família, mãe, pai ou coisa que o valha. E a minha pergunta é: “Será que esses pais sabem o que seus filhos estão fazendo na rua?”  “Será que a mãe daquele menino que apontou uma arma para a cabeça do MEU menino, sabe o que seu filho está fazendo na rua?”

O estresse deles no ato era maior que o meu, e isso era tão nítido que enquanto me virava apressada para conseguir passar o Samuel pela porta do corredor da casa da minha sogra, o que estava com a chave na mão, uma chave modelo canivete, não sabia nem acioná-la e ainda gritou pra mim. “Não entra não!”

Só que dessa vez não obedeci, puxei a porta do  corredor e estava prestes a fechar a porta da sala, quando ouvi barulho de pneus cantando. Aquilo foi música. Ufa! Eles tinham ido embora.

E quando meu cérebro entendeu que o Samuel já estava seguro, e aquela arma já estava longe o suficiente, aí sim o desespero, medo, terror  e todos os sentimentos de pânico bateram em mim.

É incrível a capacidade de preservação da vida que temos, a força que temos sem saber que ela está lá.
Hoje percebi que e o instinto de sobrevivência, de preservação da cria é algo nato em nós mães.

Entre lágrimas e gritos de “pega ladrão!”, o Marcelo (meu marido) chegou. E sem nem parar o carro foi atrás pra tentar perseguí-los, olha o instituto novamente aí, dessa vez o masculino, de caça, de proteção do bando.

E com aquilo tudo acontecendo em questão de minutos o nervosismo tomou conta de mim a tal ponto que  nem ligar para a policia eu conseguia. Ao discar 190, para mim, o telefone estava mudo, mas para minha surpresa recebi de volta o telefonema da central de atendimento 190 que muito solícita questionou o que estava acontecendo.

E aqui quero publicamente elogiar o trabalho da central de atendimento 190 da cidade de São Paulo. E olha que com os 3 anos de trabalho em centrais de atendimento como supervisora que tenho no currículo, isso nunca havia acontecido. Com muita segurança e sensibilidade a moça que me atendeu conseguiu arrancar de mim até a placa do carro que eu nem sabia que sabia. Tentou falar com o celular do Marcelo, retornou a ligação…realmente me surpreendeu. 

Alguns instante depois consegui contato com o celular do Marcelo, que já estava na base da Polícia mais próxima. Vendo meu desespero só tentou me acalmar e pediu para que eu o aguardasse.

Bom, quem me conhece pessoalmente sabe que esperar é algo muito difícil pra mim e esperar sem fazer nada então, é algo que eu não aprendi nessa encarnação. E foram os 5 minutos mais longos de minha vida até aqui. Quando avistei passando de carro na rua um amigo do Marcelo de longa data, a quem eu mesma havia visto no máximo 4 vezes (Incluindo 1 vez do casamento), sem pestanejar e usando parte da minha cota de cara de pau, expliquei o ocorrido e pedi uma carona.

Ao chegar na base, fiquei sabendo que o carro já havia sido encontrado.
Com ABSOLUTA certeza o motorista perdeu o controle do carro na curva por causa da direção hidráulica (eu subi em várias guias ate me acostumar) e foi parar no meio de uma ilha de retorno, não sem antes arrastar um daqueles blocos de concreto que ficam no chão (Tipo uma “tartaruga”, só que branco e grande) por  uns 300 metros, derrubar 3 arvores e estourar um pneu. Acredito que a batida foi um grande susto porque eles saíram levando apenas a frente do player do carro e meu celular, que já devia estar no bolso alguem. Minha bolsa, estava do jeito que eu havia deixado, nenhum cartão de credito, documento, ou dinheiro foi levado.

Porque estou contando isso aqui?

Para pedir a ajuda de vocês, divulguem esse fato para todas as mães que você conhece. Para que elas se conscientizem da importância de saber com quem seu filho anda,  onde ele está e o que está fazendo.

O filho de alguém está com um celular, que registrou na manhã de hoje um momento único na vida da minha família.

Hoje, o filho de alguém, podia ter tirado a vida do meu.


Patricia Assis